Condenado

Não fiz minha lição de casa,

meus pincéis não coloriram a tela,

os muros ainda estão de pé,

continuo de mãos atadas,

meus olhos vendados,

meus pés no parapeito de um prédio,

vinte andares para despencar,

não há necessidade de saber quem eu sou,

não há porque se preocupar com um ninguém...

Não publiquei meus livros de poesias,

meus dedos estão cortados por arames farpados,

os cacos de vidros estão espalhados,

continuo algemado à minha triste alma,

minha boca não emite nenhum som,

meus ouvidos estão surdos à qualquer grito,

sumirei na ressaca do mar revolto de uma noite de outono,

não há por quem fazer preces na madrugada,

não há porque chorar por um estranho sem rosto...