Cruzando oceanos
Olá,
cá estou escrevendo um bilhete,
singelas linhas para uma despedida,
talvez pouco importem minhas palavras,
mas aprendi a usá-las no início e no fim,
então se a magoei como dizes,
esqueça a dor que provoquei,
sempre fui como o vento,
suave e destruidor, brando e violento,
uma contradição em desequilíbrio,
buscando por uma sanidade em meio à loucura dos tempos...
Olá,
não guardes todo esse rancor de mim,
talvez não tenha sido o exemplo de ser humano que esperavas,
quem sabe o destino em mim imprimiu o cinza do concreto,
a fortaleza de pedras necessária para proteger-se,
o aço da espada capaz de salvar e ceifar vidas,
então se me culpas por suas lágrimas,
lembre-se das vezes que também fui seu motivo de sorrisos,
e se nada dura para sempre, tivemos nosso eterno,
nosso infinito em alguns momentos efêmeros,
agora poeiras de estrelas em uma noite silenciosa...
Olá,
sei que posso parecer duro e insensível,
mas ás vezes é tudo o que consigo ser,
vivendo pelas circunstâncias de uma vida de lutas,
enveredando pela solidão de um espírito labiríntico,
sem mapas para encontrar a saída de mim mesmo,
usando uma bússola quebrada para marcar meus nortes,
norte-sul de uma morte azul, permanecendo vivo por suplício,
cruzando oceanos desérticos com olhar vazio,
esperando chegar ao topo da montanha para gritar,
na ausência de uma voz que deixou no passado sua alma...