Abandono

Quantas vezes eu li tua alma desnuda?

Por quantas vezes coletei tuas lágrimas

Até essas pesarem em meus próprios olhos?

Ainda me vejo tocando as vibrações da sua voz

Quando elas preenchiam o ar com tristeza

E eu me saciava com as migalhas de você

Que se dispunha a dar!

Quantas vezes arranquei pedaços de mim

Pra te recompor?

Desfigurei minha alma em cicatrizes

Pra que você não sentisse as suas

Hoje o peito aperta porque eu nunca quis te deixar

Mas você me abandonou aos poucos

Tão lentamente que nem percebeu

Mas eu vi!

Eu vi o rastro de adeus que deixou

Em todos os cantos escuros

De todos os poucos momentos que me deu

E o rastro foi sumindo

Parecendo um rio de palavras contidas

Uma correnteza de sentimentos não correspondidos

Um rio que retalhou-me ainda mais

E que te levou devagar

Até você desaparecer completamente

Me deixando acorrentada em algum pedaço de você

Que não quer se desprender!