A Palavra Amordaçada

vestidos como se com farrapos

o andar debilitado e o coração

quebrantado

'por favor, preciso de sua ajuda'

sussurros trêmulos e olhos úmidos

os rostos preocupados

ansiosos e enrugados

diante da dor

não importa qual for a dor

diante da dor

somos todos iguais

o perfeito retrato

do desprovido de paz

procurando alívio imediato

tento ser a pessoa

que escuta, que oferece

uma história,

uma distração,

um carinho,

uma solução

tento ser uma boa pessoa

mas no íntimo

sou todo solidão

quando sou eu o desamparado

quem é que estende a mão?

não! ninguém...

não há ninguém

há apenas eu (e as paredes vazias)

ecoando pela vastidão

'não sei o que fazer na sua situação'

'mas, sinceramente! por causa disso? não, não...'

'não dá, hoje não posso e amanhã

também não'

ecoando pela vastidão

desculpas soltas na escuridão

há apenas eu

por todo e qualquer lugar que eu vá

eu

caminhando sozinho

por todo e qualquer caminho

salvador de mim mesmo

arrancando meus espinhos

essa é a solidão desesperada

de quem não tem a quem recorrer

e amordaçado, como a palavra 'ajuda'

(a palavra amordaçada)

segue suportando

encarando o próprio silêncio

como sinal de resiliência

aquele que precisa e recebe

nem sempre se lembra de sentir gratidão

perdoe-os

são falhos como são falhas

as falhas do mundo

o mandamento segue sendo este:

'Amem-se uns aos outros como eu os amei'

Vinícius Risério Custódio
Enviado por Vinícius Risério Custódio em 09/11/2015
Reeditado em 15/11/2015
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