A Palavra Amordaçada
vestidos como se com farrapos
o andar debilitado e o coração
quebrantado
'por favor, preciso de sua ajuda'
sussurros trêmulos e olhos úmidos
os rostos preocupados
ansiosos e enrugados
diante da dor
não importa qual for a dor
diante da dor
somos todos iguais
o perfeito retrato
do desprovido de paz
procurando alívio imediato
tento ser a pessoa
que escuta, que oferece
uma história,
uma distração,
um carinho,
uma solução
tento ser uma boa pessoa
mas no íntimo
sou todo solidão
quando sou eu o desamparado
quem é que estende a mão?
não! ninguém...
não há ninguém
há apenas eu (e as paredes vazias)
ecoando pela vastidão
'não sei o que fazer na sua situação'
'mas, sinceramente! por causa disso? não, não...'
'não dá, hoje não posso e amanhã
também não'
ecoando pela vastidão
desculpas soltas na escuridão
há apenas eu
por todo e qualquer lugar que eu vá
eu
caminhando sozinho
por todo e qualquer caminho
salvador de mim mesmo
arrancando meus espinhos
essa é a solidão desesperada
de quem não tem a quem recorrer
e amordaçado, como a palavra 'ajuda'
(a palavra amordaçada)
segue suportando
encarando o próprio silêncio
como sinal de resiliência
aquele que precisa e recebe
nem sempre se lembra de sentir gratidão
perdoe-os
são falhos como são falhas
as falhas do mundo
o mandamento segue sendo este:
'Amem-se uns aos outros como eu os amei'