À Deriva
Parece um pesadelo
Mas talvez seja só um sonho
Estou à deriva num barquinho minúsculo
E o mar ao meu redor é azul e profundo
Numa noite de estrelas pálidas e distantes
Pequenas ondas racham tranquilamente contra o casco
E seu ritmo constante me embala com uma serenidade estranha
Não há vivalma por perto
Nenhum sinal de luz até onde a vista alcança
A solidão é pacífica
Estar longe de todos é pacífico
Não amar ninguém é pacífico
Não ter ninguém por quem lutar é pacífico
Mas a morte também o é
(Ou, pelo menos, foi isso que os fantasmas me disseram)
Não quero acordar
Não quero voltar para o mundo das multidões solitárias e dos amores que se despedem
Não quero apertar meu travesseiro outra vez com a força da solidão
E não quero a imagem de seus olhos traiçoeiros atormentando cada pensamento meu
Quero me perder à deriva
Num mundo de letargia
Onde as ondas são calmas e nenhum sentimento tempestuoso me poderá afundar
Quero me perder à deriva
Deixar meu coração bater devagar
Pois já não tem mais para onde ir
De tanto que corre quando lembra de você
Quero me perder à deriva
Viver do tangível, não de expectativas irrealizáveis
Navegar o hoje, e deixar o amanhã ir chegando sem pressa
Não preciso de remos
Não preciso de velas
Em meu sonho somos apenas eu e meu barquinho
Navegando à deriva em alto-mar