Ultrarromantismo

É só mais uma noite ébria

Carregada de spleen

Faz alguns anos que ultrapassei a expectativa de vida dos ultrarromantistas

Mas ainda estou aqui na boemia

Lutando contra a melancolia

Transformando meu drama em poesia

Como Casimiro ou Álvares de Azevedo

Em uma taverna com sua pena e tinteiro

Sento-me numa mesa de bar

Com minha caneta e um papel imaculado

Ansiosa por perder-me em escapismo

Mergulhar no frio da alma para fugir do frio da noite

Até um dia morrer de tuberculose

Para não dizer que morreu de amor

É só mais uma noite de lua cheia

Bares cheios, copos cheios, almas vazias

Não escrevo sobre uma bela musa inalcançável

Mas também divago sobre um amor que não posso ter

Rabisco sobre sentimentos que não sou digna de cultivar

Uma musa de cabelos dourados e olhos de esmeralda

Também pode se sentir sozinha

Também pode sentir que o mundo é frio e mau

Também pode sentir que há noites em que nem um copo de vinho

Consegue ter todas as respostas

Uma musa de pele alva e lábios carnudos

Também pode perder-se em pensamentos niilistas

Também pode achar consolo no escapismo

Também pode brindar ao efêmero e ao melancólico

E, se voltasse no tempo,

Poderia sentar-se com Lorde Byron

E ouvi-lo declamar seus romantismos cativantes, decadentes

Porque só o mais miserável dos poetas sabe

Que é impossível salvar o mundo sem antes salvar a si mesmo

E alguns de nós, ébrios de poesia, não podemos ser salvos

A noite é vasta e meu coração se comprime na escuridão

Sou poeta, sou fantasia, tenho medo da vida

Tenho medo de amar e tenho medo de perder

Tenho medo de que o fim chegue antes que eu derrame minhas palavras

Antes que a noite termine e minhas aventuras boêmias se percam com o mal do século

Eu sou poeta

Meu coração pulsa mais forte na dor

Minha alma voa longe e não se contenta com meio sabor

Eu sou poeta

Ainda que morra, viverei para sempre