Dádiva ou maldição?
Um pássaro, uma jaula
O mesmo canto toda noite.
Ao vento ele fala
E a ele, o vento escuta
E o acompanha, com um assovio
Numa noite de permutas
De canções.
E ao fundo ele ouve
Outros tantos cantos como o dele
Em outros tons, em outros lugares
Mas ele não os vê.
Ele não entende como sua canção
É reproduzida tantas vezes
De tantas formas
Mas nunca à ele mesmo.
Ele já viu, e sabe por instinto
Que existem outros tantos como ele
Mas só os vê de longe, por poucos segundos
Até que somem ao fundo
De uma parede branca.
Nenhum deles veio em seu auxílio
Ou respondeu às teus choros.
Ele era diferente deles, mas não sabia em que sentido.
Pois todos eram livres e ele não
Todos eram calados e ele não.
Todos voavam e ele não.
Isto era dádiva ou maldição?