Rua da solidão
Preso em uma garrafa,
velejando num navio de cordas,
desviando das ondas de bolhas,
sento na borda de uma taça de vinho,
inebriado pelo álcool em meu sangue,
sentindo a tristeza percorrer minhas veias,
inundando meu ser de topor e dor,
sou um marujo de sonhos naufragados,
um imigrante de mim mesmo no deserto,
caminhando milhas atrás de um destino,
renegado pela própria sorte,
quando olho para o céu só existem nuvens cinzas,
granizos despejados sobre meus pensamentos,
tempestades em ebulição em minha alma,
quando tudo jaz em uma lápide sem nome,
um rosto indigente na rua da solidão,
esqueça, não há nada mais por consertar,
sobrevive-se ao espelho quebrado dos 7 azares,
percorre-se ébrio a pista ao longo do desfiladeiro,
acelera-se a motocicleta em cada curva,
pilotando vendado como um camicase,
buscando o alento para essa inexistência,
mas há risadas do outro lado da linha,
contraditória piada que me mantém respirando,
errante roteiro de uma péssima adaptação cinematográfica,
submerso num drama sem cortinas a serem fechadas,
repetindo todos os dias o mesmo dilema,
numa escrita de agonia e superação,
tentando encontrar alguma redenção...