Aridez
minhas narinas
se ressentem
dessa secura toda
dessa aridez
o pensamento desidratado
cai vigorosamente no chão
e, se quebra
estilhaçado, espedaçado
segue por entre frestas, veredas,
cantos.
fogem do silêncio absoluto
e vai se abrigar no
murmurinho das águas
a cantar primaveras mortas
murchas
peixes vesgos
e limbo
muito limbo, lodo
e lama.
e na cachoeira o
pensamente se precipita
se atira no abismo
improvável das emoções
escorre dos olhos
o que seria lágrima
e hoje, é apenas ressentimento
escapa da boca
o que seria palavra
e, hoje é suspiro
evade da audição
o que seria música, ode,
som
e, hoje é ruído
e solidão
essa face perfeita
demais
agride o espelho da
razão
esse olhar triste
demais
embrutece a alma,
apunhala o espírito.
somos todos fantasmas de nós
mesmos
rondando pelos quartos
da lembrança
a gênese de nossa
própria história
e
quando acharmos finalmente
o fio fundamental da meada
o novelo
está mofado
reto e esticado
não há mais nada a desvendar
Tudo é essa secura.
Tudo é essa aridez
contínua,
sólida onde
olhos ardem
narinas sangram
lábios racham
cortando as palavras
que eu poderia dizer.