Aridez

minhas narinas

se ressentem

dessa secura toda

dessa aridez

o pensamento desidratado

cai vigorosamente no chão

e, se quebra

estilhaçado, espedaçado

segue por entre frestas, veredas,

cantos.

fogem do silêncio absoluto

e vai se abrigar no

murmurinho das águas

a cantar primaveras mortas

murchas

peixes vesgos

e limbo

muito limbo, lodo

e lama.

e na cachoeira o

pensamente se precipita

se atira no abismo

improvável das emoções

escorre dos olhos

o que seria lágrima

e hoje, é apenas ressentimento

escapa da boca

o que seria palavra

e, hoje é suspiro

evade da audição

o que seria música, ode,

som

e, hoje é ruído

e solidão

essa face perfeita

demais

agride o espelho da

razão

esse olhar triste

demais

embrutece a alma,

apunhala o espírito.

somos todos fantasmas de nós

mesmos

rondando pelos quartos

da lembrança

a gênese de nossa

própria história

e

quando acharmos finalmente

o fio fundamental da meada

o novelo

está mofado

reto e esticado

não há mais nada a desvendar

Tudo é essa secura.

Tudo é essa aridez

contínua,

sólida onde

olhos ardem

narinas sangram

lábios racham

cortando as palavras

que eu poderia dizer.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 22/06/2007
Código do texto: T536982
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