Vórtice Invisível
Saia desse vórtice
Saia desse vórtice que não te pertence
Não pertence a ninguém
Nem a ti, nem aos homens
Fica de vez nesse mundo
Ou sai abrupto e cruelmente
Se saio, jogo os homens no vórtice
Se fico, me puxa com a força
Da mais doce voz
Me chama de volta
Transmuta-se em flor
De cheiro tão atraente
Mas será ainda um vórtice?
Se cala, novamente
Some da minha frente, por um segundo
Mas sei que está lá
Pronto para me puxar
Para tudo transformar
No apego será superprotetor
Na doçura será quase indiferente
No desespero será tomado por inércia
Na solidão terá a lágrima assassina
Nos pedidos a sonora dependência
Para a morte e para a vida
Me puxa incessante
Mas me afasta nesse instante
Um vórtice de almas penosas
Cuja minha fora filtrada e sublimada
E reprimida, suprimida
Exaltada, estimada
Segregada, exilada
Encimada, coroada
Sob a redoma indecisa
Ora boia, ora afunda
Ora seca, ora transborda
Os mesmos olhos que consolam
Me perfuram sem palavras
E confusa, meio tonta
Já cercada pelos ventos
Quer sair ou se afundar
Não decide, pois não deixam!
Cala os sentidos, ainda as sentem
Vozes que soam sem retumbar
Murmuram por dentro de suas lembranças
Escoam seu choro que ecoa ao ar
Livre dos ventos, do rodopio
A grama macia, não se move
Além de si mesma tudo se cala
O vórtice fora do mundo de vez
Ou nunca esteve fisicamente
Somente tu sentes o vórtice invisível.
- Felipe Fernandes