agonia uivante
o vento lá fora uiva
a sua agonia profunda
é tormenta de ir e vir
e se perder no desalinho
do tempo, lugares
espaço e dimensão
o vento lá fora uiva
feito um lobo doente
a chamar a matilha
mas a matilha já não há
uiva pela própria solidão
que esfrega nos troncos das árvores
que serpenteia sobre os areais
que açoita os corpos
que insistem
em buscar
algum lugar
lá fora o vento
me conta o que aqui dentro
estará quieto,
denso, concentrado
pelas paredes
internas
pelos intetinos
pelos excrementos
e na dispersão caótica
da ventania
o pólen se fertiliza
a vida se multiplica
os insetos nascem, crescem e morrem
numa cíclica
mística, curta e cruel
é igual o ciclo dos homens
nascem, ou abortam
crescem ou embrutecem
e, morrem ou se eternizam
por meio de ventos,
uivos,
canções ou
solidão.