agonia uivante

o vento lá fora uiva

a sua agonia profunda

é tormenta de ir e vir

e se perder no desalinho

do tempo, lugares

espaço e dimensão

o vento lá fora uiva

feito um lobo doente

a chamar a matilha

mas a matilha já não há

uiva pela própria solidão

que esfrega nos troncos das árvores

que serpenteia sobre os areais

que açoita os corpos

que insistem

em buscar

algum lugar

lá fora o vento

me conta o que aqui dentro

estará quieto,

denso, concentrado

pelas paredes

internas

pelos intetinos

pelos excrementos

e na dispersão caótica

da ventania

o pólen se fertiliza

a vida se multiplica

os insetos nascem, crescem e morrem

numa cíclica

mística, curta e cruel

é igual o ciclo dos homens

nascem, ou abortam

crescem ou embrutecem

e, morrem ou se eternizam

por meio de ventos,

uivos,

canções ou

solidão.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 21/06/2007
Código do texto: T536218
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