silente
todo esse silêncio
enorme muralha surda
que sepulta meus lamentos
meus gemidos,
dores esquecidas
e na redoma de cristal
os sonhos refletem
com a luz do sol
bebem orvalho da manhã
secam-se com a brisa da tarde
e, a noite
conversam longamente com a lua
cochichando para as estrelas não ouvirem
todo esse silêncio
e os mortais mais parecem oráculos
a profetizar destinos
a vaticinar a sorte
a errar caminhos
e chamarem de arte ou desatino
todo esse silêncio
repleto de perguntas irrespondidas
de culpa, medo e pavor
faz da boca uma vergonha
que se deve esconder
eliminar
maquiar discretamente
como não houvesse palavras
a serem ditas,
recitas,
declamadas,
gritadas
a pleno pulmão
mudas as palavras
transmutam-se em gestos
de mãos , de corpos
de delicadezas ásperas
de belezas agressivas
e de crueldade ostensiva.
todo esse silêncio
e um copo d'água
parece um oceano misterioso
não se sabe se há morte
depois dele,
ou antes dele.
a morte mora no silêncio
numa quitenete sombria
da alma.