silente

todo esse silêncio

enorme muralha surda

que sepulta meus lamentos

meus gemidos,

dores esquecidas

e na redoma de cristal

os sonhos refletem

com a luz do sol

bebem orvalho da manhã

secam-se com a brisa da tarde

e, a noite

conversam longamente com a lua

cochichando para as estrelas não ouvirem

todo esse silêncio

e os mortais mais parecem oráculos

a profetizar destinos

a vaticinar a sorte

a errar caminhos

e chamarem de arte ou desatino

todo esse silêncio

repleto de perguntas irrespondidas

de culpa, medo e pavor

faz da boca uma vergonha

que se deve esconder

eliminar

maquiar discretamente

como não houvesse palavras

a serem ditas,

recitas,

declamadas,

gritadas

a pleno pulmão

mudas as palavras

transmutam-se em gestos

de mãos , de corpos

de delicadezas ásperas

de belezas agressivas

e de crueldade ostensiva.

todo esse silêncio

e um copo d'água

parece um oceano misterioso

não se sabe se há morte

depois dele,

ou antes dele.

a morte mora no silêncio

numa quitenete sombria

da alma.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 21/06/2007
Reeditado em 21/04/2008
Código do texto: T535836
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