Exílio

E o frio daquela noite era memorável, seu estomago gritava torturas de rejeição a qualquer coisa que nele tentasse habitar. Era escuro, e o preto tomava conta da esclera dos olhos daquela menina e ela já não permitia mais a entrada da luz. Tudo se tornou mais parecido com terrores infantis, sem príncipes, sem sapos, onde versões antigas eram muito mais viris. Apesar do escuro, era como se as feridas dos pés ejetassem um líquido vermelho florescente, era possível enxergar a dor, sem nem menos vê-la, era possível amar a cor, sem nem menos tê-la.

E a carne petrificava, num continuo processo de apanhar a alma, não era mais ela a hospedeira, era ano de colheita. E num movimento súbito quase não avistava o chão, eram só vidros estilhaçados e um corpo sem coração, gritos afagados por uma bela canção. A escuridão que vinha vindo, já não tinha emoção, era ato impensado, só pedia redenção e tudo tinha nome, de codinome solidão.