Solenidade De Um Velório
Todos receberam a notícia
Seu corpo estava ensanguentado
Largado em ladrilhos molhados da mancha
E em joelhos eu estava
Debulhando em salgadas águas pela minha face
Meus irmãos viram-me abraçando
O cadáver pútrido de minha mãe
O cheiro de decomposição alastrava-se
Mas eu nada sentia
Se não o fétido odor da solidão
Fui tirado a força
Com minhas mãos presas
Ás suas mãos geladas e sem cor
Mordendo os meus lábios eu só queria
Bradar contra o desgraçado anjo da morte
3 dias finalmente passaram-se
Um velório taciturno a violinos
Porém, a euforia tomou conta
De repente, era insano, era magnífico.
Comprei engradados de cerveja
Comprei empadas, e todo tipo de salgado
Esse não seria um velório com sorrisos forçados
Seria a solenidade de toda a vida!
Comecei a pular, oferecendo a cerveja
Comecei a rir, a cantar, a exaltar minha mente
Eu queria contar uma piada
Mas era o único a rir verdadeiramente.
Minha mãe riria muito na parte
Em que o aviador confunde-se com o papel
Celulares ligados, fitaram-me de forma séria
Não entendia o porque de tanta preocupação
Um carro chegou com altas sirenes
Soldados de branco, corriam para adentro da capela
Fui agarrado e calado por mãos desconhecidas
Fui amarrado, e jogado para dentro de um caixote
Um caixote sem visão, sem a luz que eu queria
Acordei num hospital, reconheci as enfermeiras
Agora estava preso numa cama
Preso pelos braços e pelos meus pés, sem entender.
Sem entender por que tiraram minha felicidade.
Sem entender por que não posso eu rir, por que não posso eu cantar
Por que não posso eu ficar feliz ao ver minha mãe entrando em podridão.
A felicidade, ela realmente é certa?
Então me respondam
Por que fui julgado por ser incondicional?
Fui privado de toda felicidade
Pelo simples fato de ter enlouquecido
Transformando o anjo da morte e do sofrimento
No maior conforto que eu poderia presenciar
A garganta de minha mãe jorrando sangue pela última vez
Enquanto eu me deliciava no refresco que isso me acarretava...