A melhor companhia
Rica imaginação,
Por que não freias teus ímpetos?
Já que eles te levam a um real impossível?
A situações nas quais os outros só fazem o que esperas?
Por que teimas em evoluir em impropriedades?
Em ousadias ditadas por teu egoísmo?
Por que desperdiças teu precioso tempo em divagações?
Por que te dedicas a construir expectativas vãs,
Já que não controlas sequer tua própria estabilidade?
As tuas paixões, quando não são passageiras, são fixações.
Projeções de tuas carências condensadas em ideias incompatíveis com a realidade
São fugas para um ideal onde controlas atos que não são só teus
Cara imaginação
Não atribuas aos sonhos a perenidade que não tens
Esses são muito mais livres que tu
Navegam por parâmetros menos restritos que os teus
Já que és permeada pela razão
Não, não é esta que agora te fala
A razão não faz concessões à poesia
Não se permite imaginar ou sonhar
Ela é tão cética que atrofia a inspiração
Com sua borracha apagando versos ainda não escritos
Com seu questionamento sobre a necessidade do que escapou de seu crivo
Ah ingênua imaginação!
Que espera é esta de que vives?
A solidão que te alimenta é o espaço em que não te cuidas
A atenção que necessitas é a que não tens por ti
A distração que atribui serem teus temas é mera conjectura sem sentido
Deixas a razão à margem porque ela te escraviza com a camisa de força da praticidade
E te soltas enlouquecida
Desesperada no voo solitário dos desbravamentos do improvável
Porém, sou culpado dessas tuas estripulias...
Porque, por enquanto, ainda és minha melhor companhia.