Mate-me amor desaparecido, inverta-se meu calvário!



O que distorce é a paixão silenciada, a arma sem disparos
Aquele desejo de ontem, o amôr desfigurado urbanamente
Sofro a calada, uma noite de rosto sério, um mal distorcido
E a sombra é a ameaça do choro, lágrimas que subvertem

Penso aqui, sentada ao canto do mundo-monstro, rezando
Com cálidas mãos que tremem nulas estarei na esperança
O que amei é sujo, juras, maldades limpas e rosto cansado
Doravante sou o andarilho que parou na cadeira do quarto

Em o meu trono sou um rei das mágoas sem jardins, flores
A cada pensar abismo, o divino esquecido, e sou conforme
Passos lá fora mas eu aqui a solitária poetisa nunca amada
Eles podem vir, enclausurado sexo, jamais me fazendo nua

Pesado é o cajado dessa morte que queda no silêncio claro
E na escuridão as cinzas se parecem multicôr desígnio curto
Sinto o vasto abismo a cada perna da cadeira infame, ai...
Mas na dôr encontro um fardo das mãos que apóiam a face

Minha mestra foi a luz, meu pai a distância, o escuro murado
Este falar que em bôca reflete um nadir de minha destinação
O ôco do mundo, a farsa dos grandes heróis, está ouvindo...
De nada adianta e eu fico a mercê da tristeza entre muros!

Tive de matar mil vezes a paixão que me desaparece assim
O cavaleiro de antes que fui e agora estou a falecer milagres
Minha certeza é a música que embala filhos quais não tenho
De cabeça baixa prevejo meu calvário no mundo encarnado

Não morrerei hoje, mas o futuro cede velhice, e sou passada
Num trilhar de antes percebi o distanciar dos mortos e vivos
E sei que falecer é a argúrio do desesperançado, insolvente
Mais tarde a encontrarei e os que vi estarão no limbo antigo!