AMPULHETA
Hoje acordei cansada
desse nada que transpõe paredes
e ecoa na mente da gente
devorando pensamentos inquietos....
Hoje acordei assim:
sei lá, talvez procurando-me em mim
pelos cantos que compõem o amago
ou quem sabe só mesmo o canto
dessa voz interna silenciosa
que faz rebuliço e contém o pranto.
Hoje me fiz passado naquele lago logo ao lado
sem cerimonias me vesti cisne,
branco ou negro , não importa
as horas já se fizeram mortas,
foi apenas um sonho louco
um pouco do que sou agora,
no lago nado ... nado,
giro como compasso ,
na espera que vai e volta.
Hoje sem proposta,
sem tempo determinado,
sem virtude ou pecado,
na ânsia de toda resposta
que tanto se demora, continuo espera.
Agora de olhos abertos, ora fechados,
sem presente, futuro ou passado
retiro o relógio da algibeira,
fito o ponteiro sem eira nem beira
e bebo o tic tac d'um tempo não condensado.
JP28032015
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