Fora e dentro
Lá fora, durante a noite, a cidade se torna sitiada.
Enquanto aqui dentro, meu coração plácido se cala.
Os solitários se reúnem nos bares (para sozinhos beberem).
Uma multidão de solitários.
Às vezes, me sento com eles e compartilho desse ritual.
Piadas hilárias; histórias insólitas; lembranças desoladoras; decepções
previsíveis e sonhos interrompidos.
Alguns até mesmo se arriscam em filosofar.
Nada que Platão levaria em consideração,
Mas existem aqueles que, por impulsos etílicos,
São capazes de conceber sentenças sensíveis e que tocam a alma,
Apenas dos ouvintes que tenham alma (claro!).
O caos e a calmaria se misturam nas noites dessa cidade,
Contraste que estão em todo os lugares,
Mas que somente são vistos pelos olhos que, por um momento, “se calam”.
Preto e branco, quente e frio, preenchido e vazio, bem e mal.
Havia uma linda moça, ruiva, de óculos wayfarer, lábios carnudos,
O seu sorriso cristalino resistia contra o borrão de rímel em seus olhos.
Coitada! Talvez não soubesse que quanto mais bebia uísque,
Mais pesada tornar-se-ia a represa que continha suas lágrimas.
As angústias internas contrastavam com as escandalosas gargalhadas.
Lá fora, tudo parecia bem.
Enquanto aqui dentro, não restava nada.