Quintais abertos
A fuga de mim,
Entre cortinas e portas desta casa,
Conduz-me – carvalho tosco –
Solícito, sereno, aos quintais abertos da memória.
Finjo que o tempo é estanque
Frente aos sinos da partida.
Os amigos íntimos visitam-me
Todos os dias. São como hinos. Hinos
Breves... Aparecem no solar da varanda
E depois saem pelas frestas da tarde.
Sonoridade... Fiel sonoridade de flautas.
Assim são esses meus amigos.
Vive escondido em mim um vigilante.
Não consigo enganá-lo. Como um lobo,
Sonda o meu silêncio e meu olhar. Até o
Odor da minha pele denuncia-me: mostra-me a aurora
Que se aproxima e as
Raias pardacentas de um crepúsculo agourento.
Eu fujo, então, ao campo cúmplice das
Minhas memórias. Viajo no convés de uma
Caravela, navegando num oceano de sonhos
E num mar de aventura.
Eu e o mar...
Sou um corso aventureiro – como num filme –
E descobridor de mundos!...
Folgo nas alegrias dos piratas e nas lendas de sereias.
Roubo todo o ouro de uma Ilha Perdida!
[Perco-me, enfim, nos oceanos. E na viagem...]
Que tempo é esse que murmura em meus
Sentidos?
Recuso-me a sair deste mar, desta dimensão sem dor.
Aqui os relógios param e fazem
Que o finito seja eterno,
Que as horas adormeçam, que o devaneio não cesse...
Que o devaneio não cesse...
[Uma voz! Alguém chama! Ah, o vendedor de pamonhas!]
Volto de meus quintais.
Passos tímidos nas tábuas da varanda.
(como perdonando El viento!...)
Atravesso portas e cortinas
E chego a mim.
(Cortinas. Portas. Nostalgia. Obstáculos que
transponho nesse túnel)
Vejo, depois, num límpido espelho
– meu olhar tenta desviar-se –
O inimigo vigilante.
Sóbrio. Mármore. Formal. Vigilante!
Ele insta comigo nos vestígios
Da minha tarde.
Eu, cansado e curvo, dou-me por vencido.
Contudo, sorrateiro e sóbrio, gasalho-me nas viagens da noite
Entre os meus fiéis lençóis.
Sidnei Garcia Vilches (12/07/2012)