DE LONGES TERRAS
REPUBLICAÇÃO - POEMA ESCRITO EM 27 DE SETEMBRO DE 2012



Andei, caminhei por avenidas largas
e por veredas
e por sertões


morei em tendas
e mansardas


mergulhei em adagas
em fundos punhais


toquei teorbas
e adufes
talvez violinos...


cantei
cantigas sem fim
em noites a sangrar...


vim de longes terras
de Portugal, de Espanha
de médios orientes
de algures...


mexi em largas feridas
algumas estanquei
outras abri mais
- sem jamais o pretender


espécie de destino
de loba e de ser gregário
odalisca
cigana


talvez vestal
quiçá meretriz


loba gregária
sem liberdade
nem entre iguais
de espécie (?)


lhe é dado viver


nenhuma
que não podia
que não devia


que precisava
para o bem de tantos
ter sido deixada num mosteiro


assim que nascida
e de lá
jamais ter saído


jamais
e seus olhos


como lanças
que a si mesmos ferem
de morte


qual édipo (?)


esses olhos


que veem
fundo
e sempre


inutilmente
nossos desertos


seres de mim
seres em mim
tantos...
tantos...


cada vez mais tantos...


impotente de mim,
impossível de mim
impossível de nós


impossível de ir-me ao encontro de algo...
de alguém...


com este coração
a quem é perigoso
mesmo interditado sentir


amores novos
por amor
por causa de uma alma
só de fidelidades


lúcidas
agonizantes
ancestrais
recém-nascidas


solidão
sem escolhas
de partir


nem para o amor
nem para anestesias quaisquer


amada
por que
para quem


amante
para ninguém


como vestal
nem para si.


Ai, pobre de quem
enxerga longe
enxerga triste assim.



De primeira, na madrugada de 27 de setembro de 2012.