A laranja

Algo aqui silencioso

bate em meu peito

Tão moço, tão tosco

de um modo sem jeito

Ele ama sem abraço

e sofre sem teu laço

A letargia padece em teu beijo

se escondendo no altruísmo por sossego

É o meu coração bandido

das cóleras e dos porres

O companheiro fiel de minhas andanças

sempre tristes e solitárias

Aqui sem vida ou alegria

vivendo da entrega solitária do dia-a-dia

Renegando a labuta sem harmonia

para se dedicar a escarros digitais

Ele corre pelos rostos

a procura de uma solução

Sem métrica, sem troca, sem razão

ardendo nos dias e lacrimejando nas noites

É o meu olhar de vidro exposto

inexpressivo, expansivo e sem gosto

Não corresponde as suas cartas de amor

em uma face estática, sem calor

Apenas tenho o que tenho por nada ter

Apenas tenho o que tenho por nada mais oferecer

Apenas tenho o que tenho, o nada e o sofrer

Sem beleza, sem carisma

Sem força, nem mesmo alegria para oferecer

Apenas tenho um sorriso

singelo, amarelo e impreciso

Apenas tenho um sorriso

fraterno, medroso e bondoso

Apenas tenho um sorriso...

Em meus grandes e tortos dentes

expostos em um sorriso tão carente

Amarelo, tão sem graça, alaranjado

como a cor do amor em pecado

O pecado criou a minha solidão

o fruto da metade se estragou

De quem é a laranja de quem se entregou

qual a metade que completa o meu amor?

Minha rouca e perdida voz

Nos medos, desesperos e desprezos

Perdeu-se em linhas sem rimas

Que um olha e outro irá descartar

Andei por todos os tempos me escondendo

E todos se escondem aos meus olhos

Ninguém de seu deserto diário apascenta a solidão

Como eu também em minha fina depressão

Josué Viana
Enviado por Josué Viana em 15/05/2015
Código do texto: T5243128
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