A laranja
Algo aqui silencioso
bate em meu peito
Tão moço, tão tosco
de um modo sem jeito
Ele ama sem abraço
e sofre sem teu laço
A letargia padece em teu beijo
se escondendo no altruísmo por sossego
É o meu coração bandido
das cóleras e dos porres
O companheiro fiel de minhas andanças
sempre tristes e solitárias
Aqui sem vida ou alegria
vivendo da entrega solitária do dia-a-dia
Renegando a labuta sem harmonia
para se dedicar a escarros digitais
Ele corre pelos rostos
a procura de uma solução
Sem métrica, sem troca, sem razão
ardendo nos dias e lacrimejando nas noites
É o meu olhar de vidro exposto
inexpressivo, expansivo e sem gosto
Não corresponde as suas cartas de amor
em uma face estática, sem calor
Apenas tenho o que tenho por nada ter
Apenas tenho o que tenho por nada mais oferecer
Apenas tenho o que tenho, o nada e o sofrer
Sem beleza, sem carisma
Sem força, nem mesmo alegria para oferecer
Apenas tenho um sorriso
singelo, amarelo e impreciso
Apenas tenho um sorriso
fraterno, medroso e bondoso
Apenas tenho um sorriso...
Em meus grandes e tortos dentes
expostos em um sorriso tão carente
Amarelo, tão sem graça, alaranjado
como a cor do amor em pecado
O pecado criou a minha solidão
o fruto da metade se estragou
De quem é a laranja de quem se entregou
qual a metade que completa o meu amor?
Minha rouca e perdida voz
Nos medos, desesperos e desprezos
Perdeu-se em linhas sem rimas
Que um olha e outro irá descartar
Andei por todos os tempos me escondendo
E todos se escondem aos meus olhos
Ninguém de seu deserto diário apascenta a solidão
Como eu também em minha fina depressão