O triste porto
Desenganado das proprias esperanças
Condenado sem ter cometido crime
Revoltado em tristes dores mansas
Quem ao proscrito o anátema redime?
Odeio as vadias que me são difíceis
Sem sequer ter tentado seduzi-las
Estou envelhecendo sem as cadelas
E a arte dos amorosos dísticos.
São-me acerbas as vergonhas da pureza
Sangra o coração tímido e ofendido
O pudor me ata e não tomo partido
Impotente ante o encanto da beleza.
O pranto reverbera noite e dia
No recesso de meu peito emudecido
Sem afrontas e estou ofendido
Pequena morte lúdica e sombria.
Belo homem só,degredado cavalheiro,
Fujo ao prazer e sou covarde
O pasmo de estar vivo me invade
No universo perseguido forasteiro.
Quem me dera uma amante professora
Os sonhos de ventura tão ardentes
Grandes coitos líricos e eloqüentes
Para acalmar a dor abrasadora.
Uma mulher decente ou fatal
Apiedada de meu triste estado
Que do caso longamente magoado
Improvisasse um balsamo natural.
Odeio esse pudor que me oprime
E os anos roe de minha mocidade
De combater com pouca vontade
Tal a vergonha sem nenhum crime.
A sós vejo amores e orgias
O mundo todo gozando o quanto pode
E a dor soturna dia e noite me invade
Em estertores de liricas agonias.