Memória atrevida!
Minha memória aprende a deletar
tudo o que é indigesto à alma,
o que maltrata,
corta como uma navalha,
gosta de sangue.
Minha memória forra a cama
onde deito e durmo,
onde acordo e sonho.
E assim vou aceitando a vida
como se cada dia me fosse uma despedida
e eu voltasse a viver,
desmemoriado
e carne não houvesse mais
que cortasse a minha voz calada
quando minha alma sonhando
beijasse as madrugadas
qual navalha sonolenta e mansa.