ECLIPSE
No útero da noite fui gerado
Minha mãe é a escuridão
Meu pai os sonhos infecundos
Tenho os horizontes fechados
Sou eclipse fechando a visão
Caminho nas noites geladas
Namoro as almas cansadas
Sou a neblina no coração
Estou nos olhares distantes
Nos desencontros dos amores
Nos sonhos dilacerados
E no vértice da paixão
Estou nos teus versos tristes
No rosto do homem desamado
Nos desejos não correspondidos
Nas lágrimas que caem no chão
Sou cantado em verso e prosa
Sou o amante fiel da tristeza
Inimigo da razão
Moro no silêncio das línguas enfastiadas
Na velhice abandonada
Nos seios nostálgicos da recordação
Sou irmão da saudade
Pano de fundo da infelicidade
E nas noites em que te queimas
Sou eu que lhe dou a mão
E saímos a andar no escuro
Porque te entendo,
E te quero,
Eu sou a solidão.