Sem esperança

Eu posso ver o medo nascendo na sua retina

A certeza de que não amará novamente, menina

Que a vida jamais será a mesma depois desta esquina

A transformação da domesticada em acuada felina.

Eu farejo o cheiro agridoce de toda sua incerteza

Toda mágoa destilada em lágrimas de raiva e tristeza

O lado bruxa afogando de vez a doce e frágil princesa

Todo despojar dos valores de sua antiga nobreza.

Eu sinto sua dor se formar como uma tempestade de verão

Sua alma esperando tudo e todos arrastar como um furacão

O seu sorriso de escárnio disfarçado num barato truque de ilusão

O sangue vertido e ainda quente do seu mortalmente ferido coração.

Eu percebo sua presença entre a multidão, escondida, à espreita

Exalando convicção cega como um fanático membro de uma seita

Toda sua inconformidade por não se julgar mais a grande eleita

O temido arquétipo de uma relação unilateralmente desfeita.

Temo por quem inocentemente irá saciar sua sede de vingança

Pelo pobre partner que irá acompanha-la em sua próxima dança

Pelo inevitável final com alguém ferido na ponta de uma lança

A história é cíclica, sempre se repete, lamento, não há esperança.

Ello
Enviado por Ello em 25/01/2015
Código do texto: T5113276
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