Sem esperança
Eu posso ver o medo nascendo na sua retina
A certeza de que não amará novamente, menina
Que a vida jamais será a mesma depois desta esquina
A transformação da domesticada em acuada felina.
Eu farejo o cheiro agridoce de toda sua incerteza
Toda mágoa destilada em lágrimas de raiva e tristeza
O lado bruxa afogando de vez a doce e frágil princesa
Todo despojar dos valores de sua antiga nobreza.
Eu sinto sua dor se formar como uma tempestade de verão
Sua alma esperando tudo e todos arrastar como um furacão
O seu sorriso de escárnio disfarçado num barato truque de ilusão
O sangue vertido e ainda quente do seu mortalmente ferido coração.
Eu percebo sua presença entre a multidão, escondida, à espreita
Exalando convicção cega como um fanático membro de uma seita
Toda sua inconformidade por não se julgar mais a grande eleita
O temido arquétipo de uma relação unilateralmente desfeita.
Temo por quem inocentemente irá saciar sua sede de vingança
Pelo pobre partner que irá acompanha-la em sua próxima dança
Pelo inevitável final com alguém ferido na ponta de uma lança
A história é cíclica, sempre se repete, lamento, não há esperança.