ETERNA TEMPORÁRIA

Os timbres daquela música ecoavam lembranças já rasgadas em gavetas

Cada nota espancava a saudade

De fundo, o cachorro late

Do lado, os porta-retratos

No refrão, pesava aquela água salgada, persistindo e se fazendo de difícil para não cair

E quando penso que não, ela já estava ali, no travesseiro

Meus olhos contornavam aquelas paredes triviais

Meus pés dançavam tango pela casa - sem rumo, à procura do nada

Minha cara, rosto, ou sei lá o que poderia já chamar

Já que o semblante era de se desesperar

Já estava gritando silenciosamente por movimentos fúnebres

Alguém levanta, faz um pequeno barulho

Depois fala algo e liga o som

Mas tudo se passava em meu imaginário

Não tinha ninguém

Eu estava sozinho

Ninguém ligou o som

Meu desespero é que gritou

Ninguém se levantou

Meus medos é que acordaram

Os rastros ouvidos eram os surtos daquela noite pesada

Virada pro nada

Sem nada

Sem ninguém

Cem lágrimas sem previsão de serem encerradas

A música agora está preste a acabar

Acompanhou-me até o fim

Desde as primeiras notas até as últimas lágrimas

A música é forte

Faz o rei se sentir uma formiga

Transforma o leão em um embrião

Toca sem encostar

Sacode o peito do sossego

Nos faz lembrar de todo tempo perdido

O presente em conflito com o passado

E o futuro na incerteza de sua chegada.

Karine O Cardoso - Betim-Mg.

Karine O Cardoso
Enviado por Karine O Cardoso em 18/01/2015
Reeditado em 18/01/2015
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