ETERNA TEMPORÁRIA
Os timbres daquela música ecoavam lembranças já rasgadas em gavetas
Cada nota espancava a saudade
De fundo, o cachorro late
Do lado, os porta-retratos
No refrão, pesava aquela água salgada, persistindo e se fazendo de difícil para não cair
E quando penso que não, ela já estava ali, no travesseiro
Meus olhos contornavam aquelas paredes triviais
Meus pés dançavam tango pela casa - sem rumo, à procura do nada
Minha cara, rosto, ou sei lá o que poderia já chamar
Já que o semblante era de se desesperar
Já estava gritando silenciosamente por movimentos fúnebres
Alguém levanta, faz um pequeno barulho
Depois fala algo e liga o som
Mas tudo se passava em meu imaginário
Não tinha ninguém
Eu estava sozinho
Ninguém ligou o som
Meu desespero é que gritou
Ninguém se levantou
Meus medos é que acordaram
Os rastros ouvidos eram os surtos daquela noite pesada
Virada pro nada
Sem nada
Sem ninguém
Cem lágrimas sem previsão de serem encerradas
A música agora está preste a acabar
Acompanhou-me até o fim
Desde as primeiras notas até as últimas lágrimas
A música é forte
Faz o rei se sentir uma formiga
Transforma o leão em um embrião
Toca sem encostar
Sacode o peito do sossego
Nos faz lembrar de todo tempo perdido
O presente em conflito com o passado
E o futuro na incerteza de sua chegada.
Karine O Cardoso - Betim-Mg.