Pinga

Fim de noite

e de semana

e do domingo.

Aqui estou e

nem sei onde

ou quem sou.

Tudo o que

penso e sinto

é vermelho.

Fim de noite

e do sossego

e do equilíbrio.

Me acompanham

meus medos,

minhas frustrações,

minha vergonha.

A torneira pinga,

rompendo o silêncio

(exterior) da minha angústia,

já que, dentro de mim

só há caos

e meu desejo de saltar

do lugar mais alto

e, em meio a queda,

recuperar as minhas asas,

que se perderam ou

foram roubadas ou

por mim vendidas.

Já não me lembro…

A torneira pinga

marcando a passagem

do tempo,

da juventude…

Aliás, eu já sabia:

não é o tempo que

por mim passa;

sou eu quem, inocente e

apressada

passo por ele e

quando me dou conta,

estou a sofrer por

nada além das minhas,

tão minhas próprias

escolhas.

Essa maldita torneira sou eu!

Vazando, derramando

deliberadamente

as gotas da minha coragem,

desperdiçando sonhos

por ter acreditado

que já não me serviam.

Agora me lembro.

Minhas asas, as vendi.

Deixei que me convencessem

que não mais precisaria delas

e comprei as bolas de ferro

que agora me amarram os calcanhares.

Não era por ter asas que eu voava!

É por isso que ando mais dependente

da minha própria ausência

do que destes cigarros amargos.

Por favor, não me procurem.

Preciso perder-me para,

quem sabe, achar-me.

O relógio desperta.

Alguém ajustou a torneira.

Minha covardia toda escorreu

e as últimas gotas foram estes

v

e

r

s

o

s.

Elen Rodrigues
Enviado por Elen Rodrigues em 02/01/2015
Código do texto: T5087921
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.