AS HORAS

Há essas horas que mendigam um sono

à brisa leve do mês de Dezembro.

As horas do meio dia,

as abissais horas do tédio e da solidão frenética.

Elas chegam desavisadamente

e congelam em um sol magnético

o espaço da cidade inteira

enquanto devoramos o almoço.

A cidade nessas horas pára.

O sol à espreita,

os deitados em exaustão exata...

De súbito momento agonizante,

surge do horizonte os sons agudos,

notas dos concertos das cigarras...

São horas de fomes,

horas de exatidões infinitas,

as horas alarmantes das sirenes,

dos gemidos agonizantes dos doentes,

as horas do tédio e do sentimento amordaçado!

Quando elas chegam, já estamos desprevenidos,

suspensos pelo teto da incerteza,

na solidão...

São sorrateiras e vorazes,

longas horas estendidas pelo

tablado do inconsciente...

...Eu, parado ao longo do caminho,

esperando o tempo da chegada prometida,

à refletir sobre essas horas desesperadas...

penso:

"Onde estará você neste momento?"