Gotas apenas
Gotas apenas,
Diluir-me
e da fina areia virar lava
escorrer para dentro
do mundo
tão profundo
e escuro
como as noites
sem lua.
Evaporar-me
ser mais branda que a água
riacho em tarde calma
á correr silencioso
mata a dentro
Confundir-me
de todos os verdes e azuis
ser pena que da pena
já não voa
só rasuras
de um riso já á toa
e umas míseras gotas
de neon
Traduzir-me
no silêncio abissal
que me consome
vasta nuvem
que arrasta-se
para dentro
E apagando-me
como apagam as aquarelas na chuva
despeço-me de mim
entro em clausura
tranco as portas
e revisto a armadura
Nesta noite que parece não findar.
E mais tarde,
quando o tempo for o senhor dos ventos
ainda haverá por sobre as pontes
um leve perfume floral
exalando nas noites de cristal
que em gotas
cairão nos rios
E desaparecerá no sonho
daquela criança
que ainda não dormiu.
Márcia Poesia de Sá.