"- Um pouco de tabaco, por favor!"

Cansado de não ser nada,

Ou achar que não sou nada.

Visito, sempre, A Tabacaria.

Talvez porque sempre ache que não sou nada.

Mesmo que um dia eu tenha tudo.

Talvez por ter sempre em mim todos os sonhos e desejos do mundo.

Da janela do meu quarto, observo os milhões que não sei quem são.

Enquanto meu coração enlouquece de ansiedade.

Enquanto eu me apaixono sempre pelo que não posso ter

Não sei o que esperar, então,

Da rua cruzada por gente e

Do lugar onde meu pensamento vive sem ser notado.

Uma verdade real e certa, irresponsavelmente certa.

Ainda que eu não queira aceitar.

Ainda que eu saiba que devo fugir.

Buscar o abrigo seco do não-amar.

E nunca ser nada.

E como coisa real por fora, ainda assim, ser tudo

Ao deixar de lado todos os sonhos do mundo.

Um passageiro da carroça do Destino, sem coragem de sair da estrada do nada.

Não estou vencido.

Porém vejo perplexo que falhei em muito.

Que faltou o propósito e não sei mais o que sou.

Fiz de mim mais do que eu sou.

E acreditaram na máscara que usei sobre a cara.

E hoje não consigo viver com a angústia de não ser o que acham que sou.

E fico com medo de envelhecer vestindo o dominó errado.

De estar um dia tão bêbado que não consiga tirar a máscara, já pegada à cara.

De não me reconhecer no espelho.

De estar tão perdido que não consiga escrever os versos.

Medo de não encontrar mais A Tabacaria

e viver em sonho, achando que ele é coisa real por dentro.