Peregrino

Há muito que as estrelas da Praça morreram

e que, cansados, os passos rarearam

até à hora grave do deserto.

Ninguém por aqui perto.

Apenas eu e tu, ilhas no silêncio que a noite guarda.

Tapo-me de negro e frio

e o corpo mostra-me a nudez e o vazio.

O que foi força e esperança é agora a certeza

de que é o tempo que nos arrasta a juventude.

Onde havia carne e bravura há uma boca sem dentes

a morder as côdeas que, se traga, não digere.

Mas estás comigo. Existes porque há luz que te projeta.

Quando não estás, sombra, eu próprio te invento,

escura, dissimulada e abjeta

a roer me nos ossos o futuro.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 05/12/2014
Reeditado em 05/12/2014
Código do texto: T5059717
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