Peregrino
Há muito que as estrelas da Praça morreram
e que, cansados, os passos rarearam
até à hora grave do deserto.
Ninguém por aqui perto.
Apenas eu e tu, ilhas no silêncio que a noite guarda.
Tapo-me de negro e frio
e o corpo mostra-me a nudez e o vazio.
O que foi força e esperança é agora a certeza
de que é o tempo que nos arrasta a juventude.
Onde havia carne e bravura há uma boca sem dentes
a morder as côdeas que, se traga, não digere.
Mas estás comigo. Existes porque há luz que te projeta.
Quando não estás, sombra, eu próprio te invento,
escura, dissimulada e abjeta
a roer me nos ossos o futuro.