A Menina do Vestido Tolo

Os versos andam de mal comigo.

Abandonaram-me à beira do meu caminhar

Em linha reta.

Eu quero declinar.

Submergir até faltar-me o ar!

E a barra do meu vestido

Tolamente bordado de sonhos de estar assim,

Estúpida! Quase feliz.

Calo os verbos que me vêm.

E o outono é quase fim.

Inverno-me por antecipação do fim.

Sinto-me oca!

Necessito eu estar desconhecedora de mim.

Não quero chão!

Gosto mesmo de voar!

Atirar-me na vida “despida” e só.

Ando tão rasa e tão cheia de gente,

Mas só-mente uma pessoa.

Todos as outras caçoam de mim.

Posso quase tocá-las:

- “Estúpida! Quase feliz!”

Gritam-me todas elas

Nas ruas estreitas de mim.

Sento-me e espero-me.

Refaço-me.

E a barra do meu vestido...

É fato… os bordados são tolos sonhos.

Observo eu… Absorta!

Inverno-me e tremem as minhas mãos.

Já esqueço-me que horas são.

Já não importa o tempo…

Este! Que me consome.

E este vício que me corrompe a fé.

Acendo um cigarro e temo.

Desconheço-me, então.

Alma penada estou – sou!

Esta! A cínica descabida de mim!

Encontro-me e já não quero mais estar!

E a barra do meu vestido tolo de sonhos bordados…

Vivo o pesadelo das tantas pessoas mortas de mim!

E das tantas outras que apenas passam…

Por mim!

Um cabide – guardo o vestido e os sonhos tolos!

Tranco as portas do armário e fujo!

Junto-me a elas todas… E grito:

- “Estúpida! És uma infeliz!”

Karla Mello

05 de Dezembro de 2014

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 05/12/2014
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