SOMBRAS SOBRE OS TELHADOS

Não consigo tirar os olhos

daquelas sombras aninhadas

sobre o telhado de minha casa.

Caminho de cabeça erguida,

procuro grandeza de espírito

para enfeitar minha vida,

mas não consigo desviar o olhar

daquelas sombras imensas.

É como se quisessem me cobrir

para que o mundo não veja

as feridas abertas em meu corpo

pelos dias de solidão,

pelas horas de angústia infinda.

Por isso, canto triste

e canto a tristeza

de ser quem não quis ser.

Lentamente me deixei

despedaçar diante do mundo.

Uma tristeza crescia em mim

e eu nem sabia o porquê.

Algumas pílulas me foram dadas,

fotografias, queimadas

sobre a mesa de cirurgia,

na qual abriram meu peito

e tiraram meu surdo coração

que pulsava, pulsava, pulsava...

para quê?

Para sentir na pele

a solidão maior do mundo.

As sombras me lembram

das perdas que deixei acontecer,

do amor perdido em um segundo,

das pancadas na cabeça.

Lembram que sou só carne

e de má qualidade,

podre em vida, cheia de desalento.

Quem me lê enxerga as sombras.

Mas as sombras me lembram também

da luz que deixei apagar,

da fogueira jamais ardente,

da voz há muito calada

na hora de confessar

querer um amor para sempre.

Wanda Maia
Enviado por Wanda Maia em 29/05/2007
Código do texto: T505618