Trocas




Para sentir que fazes sentido,
Trocas os títulos dos mesmos livros,
E as leituras, um simulacro,
Páginas gastas ao ser viradas
Por dedos sujos do mesmo visco.

Por mais que andes, por mais que sigas
Pelas estradas já tracejadas,
Sofregamente, a buscar meus passos,
Te enforcas sempre, tropegamente
Nas mesmas cordas, nos mesmos laços...

E nada muda; não compreendes?
Estou além de teus braços curtos,
Teus dedos curtos, e o entendimento
Sempe tão curto, da tua mente
E da comprida língua, tão rente!...

Lambes as patas, trincas os dentes,
Urinas sempre nas mesmas moitas
Afoita segues, tão delirante
Com a mesma dor, e a mesma febre
De quem há muito já nem mais coita!

Na noite fria do teu poente,
Singras um céu que não te recebe,
Vives na ânsia de um ouro amargo,
Os pés pisando esse mesmo solo
Na escassez dessa mesma plebe!

Não sou pra ti; não te desconcertes
Supondo ver o que nunca viste,
Compreender o que não alcanças,
A repetir, sempre a mesma dança
De pés cansados, ritmo inerte!

Vou por aqui, e tu, por ali,
E se acaso nos encontrarmos
Bem mais na frente, por acidente,
Eu comerei do meu pão, contente,
Sem ansiar pelo teu pão asmo.




 

 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 30/11/2014
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