VIGÍLIA
Não me cabe no bolso
As angústias de agora...
Passo à vida a fora
Tentando sentir o gosto:
Dos frutos que não comi;
Das palavras que não proferi;
Das agonias que não vivi.
O passaredo me acorda
Perdido como adormeço.
Justa sentença, confesso,
Pois não fui me procurar
E de tanto reclamar
Já acho que é cosa pouca:
Qualquer bebida me cura;
A silhueta de qualquer figura
Esvoaçando dentro do vestido.
Então guardo sorriso contido
Por sarcasmo ou tristeza,
Posto que, por justeza,
Outras cargas pesam mais.
Só quero acordar mais leve:
Com mais respostas e mais desfechos;
Dentro do próprio eixo;
Com menos agonias;
Pra não desperdiçar energia
Com dilemas fúteis
Ou falas inúteis
E traços de covardia.