VIDAS SEM VIDA
Estava no banco sentado
Esperando o seu transporte
Um fulano abandonado
Lamentando a sua sorte.
Com um olhar embaciado
E um rosto de fino porte
Sem o tempo assegurado
Denotava algum desnorte.
Vivia algures sozinho
Era viúvo e um pouco idoso
Sem mulher e sem carinho
E com os filhos desgostoso.
Quem lhe dera ter ventura
E saber porque a perdeu
Como perdera a criatura
Malgrado já estar no céu.
Sempre adorou os seus filhos
E deu-lhes a maior atenção
E agora, entre chorrilhos,
Perdeu-lhes o coração.
Por eles queimou sua vida
Dando-lhes casa e sustento
E andam de vida perdida
Aos quatro cantos do vento.
- Não tenho falta de comida
Dão-me banho a contento
Aproveito a minha saída
Pra ganhar algum alento.
Que ninguém tenha no mundo
A sorte que me calhou
Este vazio, cá no fundo,
Foi quanto ela me deixou.
Sei bem que há muita gente,
De lés a lés no país,
Sem esperança no presente
Mas que sonha ser feliz.
Eu, porém, não vejo jeito
De ver o sol a brilhar
Não sei se é azar ou defeito
E o tempo custa a passar…
- Vem ali a camioneta…
Oh, não é esta, é a seguinte.
- Pois, com paciência discreta,
Só me falta ser pedinte!
Frassino Machado
In AS MINHAS ANDANÇAS