Lugar nenhum
Na estrada de terra que sobe a serrania
O caminho doloroso se perde em trilhas sem volta
Os pés cansados imploram por sossego
Mas é preciso seguir em frente
É preciso vencer o véu da noite
Para se inebriar na aurora seguinte
Através da vertigem dos anos passados
Enxergo apenas uma parte do que um dia já fomos
Seus olhos escuros faíscam indicando o caminho
O vento que eleva as folhagens e remexe os cabelos,
confunde os olhares, troca de lado a nuvem serena
Ouço sua voz como um trovão
Que tempestua na consciência pesada
Um desabafo que rompe o sigilo da noite
Deito meu corpo cansado na beira das veredas
É chegada a hora de olhar para cima
E contemplar os sorrisos estrelados do firmamento
Enxergo seu rosto triste nas flores do Jacarandá
Silhueta que resplandece na luz acinzentada da lua
E nos traz de volta a primavera
Busco seu corpo com as mãos, mas só desejo o vazio
Abraço o ar suave da noite, que aconchega os momentos de ausência
No desconsolo dos dias perdidos
Sua voz já não é mais o trovão das palavras cruéis
Sua voz é sussurro, que murmura o sofrimento distante das noites
Seus olhos já não são mais os olhos penetrantes de faísca
Seu olhar é remoto, é o suspiro desbotado do Jacarandá
As estrelas seguem seu rumo, a aurora vem iluminar o orvalho gelado
E a vereda dá lugar ao descampado de escarpas e bolsões
Sua voz já é memória distante, seus olhos, saudade latente
E eu sigo sozinho, sempre em frente
Rumo à lugar nenhum