PALAVRAS, O DEUS IMPERFEITO
Republicação – Poema de 2002
Palavras criaram espelhos
e em cada espelho
o rosto do outro projetado.
Palavras criaram lagos
e em cada lago
a imagem de outro Narciso.
Palavras fundaram o Reino
e os jardins, onde cavalos brancos
guiavam coches entre alamedas.
Palavras onde o tempo
parou os ponteiros dos relógios
e simulou a vida, tão de dentro,
que as árvores desvelaram
seu rosto de Sonho
e entre sonho e vida
de papéis trocados
teceram uma História
que nada explica
nem mesmo o Abismo.
Assim os rostos criados:
Palavras.
Assim as horas ocultas:
Palavras.
Assim o eterno retorno
do Mundo sem Memória:
Palavras.
O Tempo Inexistente
como um Anjo que se repete
no portal do sonho:
Palavras.
Quando o Sonho
exausto de si mesmo
quis acordar
para o dia simples
era tarde:
Palavras.
Palavras
desde sempre tardias
a morrerem onde continuam tecendo
o organismo das vidas.
Palavras:
Deus imperfeito.
Palavras:
Suprema Autora dos Simulacros.