Morte em vida
Se tranquei meu corpo nesta imensa promessa
É porque acredito que já fui culpada
Ninguém desce até o inferno sem se sentir infeliz
Nem destila veneno na sua própria estrada
Se hoje carrego a culpa imensa de não saber o que fiz
Meu destino me dirá com certeza o que devo colher
Já sei de minha luta, meu dever, minhas horas
Compreendo meu mar revolto e sei do meu dever
Se lágrimas banham agora meu rosto cansado
É porque de alguma maneira fiz por merecer
Se me entristeço e de mim tenho compaixão
É porque sou fraca e não mereço mais viver
Preciso imensamente de uma dose de ar fresco
De algo que me faça por fim entender
Que estar sozinha não é de todo verdadeiro
Preciso acreditar que ainda posso caminhar
Que me cantem os poetas do mundo inteiro
Que estas minhas idas ao inferno particular
Que tanto açoitam, arranham e machucam
Vão acabar quando eu realmente me encontrar
Covardemente peço e oro ao Criador
Que me arranque de vez esta corrente
E vejo que para eu ser feliz e renascer
Tenho que embalar mais uma vez esta dor
Volto ao meu canto taciturno e conhecido
Engulo mais uma vez meu veneno adormecido
Faço de conta que não tenho direito de me impor
Agora com lágrimas cristalizadas no meu rosto
Vejo que quem mais sofre é meu carrasco
Com sua imensa incapacidade fingindo que não viu
E aí tenho pena de ir sem deixar rastro
E sigo em frente lustrando a espada que me feriu.