Chove lá fora
ainda bem
queria chorar muito
gritar, espernear...
dizer impropérios
bater portas,
chutar o balde...

Chove torrencialmente
os ventos e os pingos
ritmados inundam a cidade...

Transeuntes quase navegam
e por vezes naufragam 
nos pequenos mares urbanos
e nas armadilhas sempre
certeiras  a nos enredar...

Chove muito lá fora...
e venta...
as gotas esbofeteam os passantes...
molham com tenacidade vitrines,
sapatos, egos encharcados de mágoa...

Chove muito...
mas tanto que meus sentimentos 
estão líquidos
escorrendo direto
pelo ralo do tempo.

Chove terrivelmente
e as folhas deitam submissas 
a força da natureza.
Nós também nos deitamos.
Dormimos.
Acordamos da letargia mórbida da
inércia.

E, provocamos tempestades.
Furacões e tragédias.
E a cada perda...
nos recompensamos...
ora com a eternidade,
ora com a ignorância.

De todo modo...
hoje a chuva lá fora 
me redimiu pela vida inteira.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 04/09/2014
Reeditado em 04/09/2014
Código do texto: T4948843
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