Chove lá fora
ainda bem
queria chorar muito
gritar, espernear...
dizer impropérios
bater portas,
chutar o balde...
Chove torrencialmente
os ventos e os pingos
ritmados inundam a cidade...
Transeuntes quase navegam
e por vezes naufragam
nos pequenos mares urbanos
e nas armadilhas sempre
certeiras a nos enredar...
Chove muito lá fora...
e venta...
as gotas esbofeteam os passantes...
molham com tenacidade vitrines,
sapatos, egos encharcados de mágoa...
Chove muito...
mas tanto que meus sentimentos
estão líquidos
escorrendo direto
pelo ralo do tempo.
Chove terrivelmente
e as folhas deitam submissas
a força da natureza.
Nós também nos deitamos.
Dormimos.
Acordamos da letargia mórbida da
inércia.
E, provocamos tempestades.
Furacões e tragédias.
E a cada perda...
nos recompensamos...
ora com a eternidade,
ora com a ignorância.
De todo modo...
hoje a chuva lá fora
me redimiu pela vida inteira.