QUANDO ESCURECE
Escurece,
Eu saio pelas ruas à procura das sombras;
Durante a procura, observo as cenas que a noite oferece;
Aqui, pessoas embriagadas dormem pelas calçadas;
Um pouco mais à frente, mulheres se vendem.
Porém, de todas as cenas que presencio
Nenhuma me chama mais atenção,
Nenhuma me traz tanto júbilo, tanta saudade, tanta alegria,
Quanto a de um casal de namorados.
Lá vão eles de mãos dadas
Trocando juras de amor,
Abraçam-se, beijam-se, vivem!
Vivem a maravilha da juventude,
Do gostar, do ficar, do tocar, do amar.
Também eu um dia já amei,
Também eu um dia fui jovem, andei de mãos dadas,
Troquei juras de amor com minha amada,
Também eu um dia vivi!
E o meu amor, Ah o meu amor...
O meu amor não cabia apenas em nós dois,
Nós o espalhávamos pelos campos,
Nós o dividíamos com os órfãos,
Nós o derramávamos nos gestos,
Nós o vivíamos a cada momento.
Ah, era lindo o nosso amor.
Gostaria de apresentá-lo,
Gostaria de poder mostrá-lo na alegria de um sorriso.
É... mas eu não posso, não agora.
Por que?
Porque o destino esse gozador, me pregou uma peça
E achou por bem colocar-nos em pontos distantes um do outro,
Deixando um abismo de saudade entre nós.
E assim eu vou aguardando o momento
Em que ela volte para abrandar o meu exausto coração;
E enquanto esse momento não chega
Eu continuarei esperando a noite
E quando escurece,
Eu saio pelas ruas à procura das sombras
Para nelas cantar meus poemas;
Pois um poeta amargurado, como eu,
Canta em seus poemas toda a tristeza que traz no peito;
Um poeta apaixonado, como eu,
Tem de levar alegria aos corações dos namorados;
Um poeta tão amado, como eu,
Só pode cantar o amor, pois nunca conheceu o ódio;
Um poeta emocionado, como eu,
Quando canta seus poemas prefere a escuridão
Para que a luz da lua não faça brilhar
As lágrimas que em breve escorrerão.