COISAS QUE AMO

Eu amo a noite com sua aparência espantosa,

A escuridão que cai sobre ela e a enluta,

O triste pensamento do sonhador,

Porque a escuridão também não oculta

O coração de um sofredor.

Pois a inspiração estampa em seu rosto

A dor, a saudade e a solidão,

Trazendo pra língua um amargo gosto,

Fluidos de mágoa, e sensação

De quem já foi vivo, e hoje está morto.

Eu amo da aurora o fundo queimado,

Tingido sobre o painel do horizonte,

Quando o dia começa a raiar,

Quando a luz inunda, e a noite se esconde,

Dentro dos meus olhos, a escuridão palpitar.

Eu amo o amanhecer do dia quando...

Quando os periquitos no ingazeiros,

Formam uma folhagem, sob enorme bando,

Que fazem laquera, um ao outro se pisando,

Causando uma dissonante ao gorjear dos parceiros.

Ah! Eu amo ver de longe a mata verde,

Dentro dela a sombra e a obscuridade,

Assim me dá inspiração e aumenta a sede,

De imprimir nos olhos a irrealidade

Que está atrás de uma invisível parede.

Eu amo arduamente ver de longe o calor da viração,

Quando é transpirado de baixo pra cima,

Quando o sol quente bate a longínqua verdura,

Do lavrado em pleno inverno, e vira inspiração,

E se torna em verso, e rima.

Eu amo a ilusão de ter mesmo não tendo,

Sonhar alto mesmo que não se realize,

Pra mim tanto faz, tudo é passageiro,

No entanto não espero que se eternize,

Os sonhos e as ilusões que estou vivendo.

Eu amo a simplicidade que esboça os risos,

Porque alimenta um poeta de versos,

Porque enriquece de sonho os improvisos,

Que há dentro do pensamento

Do escritor que desenha seu próprio universo.

Eu amo olhar nas paredes e ver,

Cascatas feitas a pincel e tintas

Pela mão de um sentimental pintor

Que se entrega a arte, depois de morrer

É sepultado ali dentro da própria tela que pinta.

Ah! Eu amo ouvir da ópera, as vozes trémulas,

A bela harmonia que um coral produz,

É suave sentir dentro d’alma

O refrescar das notas, no ofuscar da luz.

Eu amo ver no profundo poço,

Os preguiçosos morcegos pendurados,

Curtindo a calma que ali dentro tem,

Eu me lembro quando era ainda bem moço,

Como se fosse hoje, me lembro de ficar abismado,

Por horas observando, até me doer o pescoço.

Autor; Gionaldo S. Lopes

Recomendo ao leitor que leia "Grabrielle" e em breve "Gabrielle II"

Gionaldo Lopes
Enviado por Gionaldo Lopes em 21/08/2014
Código do texto: T4931680
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