No Quarto
Odor perceptível e desconfortável
Minha essência visando a matéria,
Repousada sobre uma dor inviolável
Desacredito, luz em miséria
Reflexo de uma vida inteira
Adormecida por tempo indefinido
A presença é a mesma na beira
Que residiu na morada, perdido
Sofrendo isolado deste plano
Do outro lado restando espera
Tempo sem curso ao que exclamo
A mente refém desta esfera
Sem vida, caído à permanência
O corpo desfeito à deficiência
Aguardando o sopro do tempo,
Permaneço a observar, sem paciência
Dormir era sinal de vitalidade
Meus dias não acarretam a idade
Que neste plano vivo em súplica
De que enfim encontre a liberdade
Solidão plena e um vazio existente
Cinzas de memórias do meu infarto
Eu, na morte, presenciava o incidente
Sentado à beira da cama, me sinto farto
Antiga morada, meu próprio corpo
Se decompondo no meu quarto...