Assim, sem você

Quando meu nome em sua boca
se chamar Saudade,
lembra de esquecer de mim.
Desista de me enviar aquelas flores
que por medo nunca me enviou em vida.
Desista de me abrir a porta de sua casa,
e de me convidar a entrar,
a ela nunca mais eu vou bater.
Afogue a pira da paixão,
dessa paixão enfadada,
e curta feliz
a burra, a sábia, a boa, a má solidão
acompanhada.
 
Eu me doei,
meu tudo lhe dei,
e agora faço a minha opção:
vou plantar pimenta, comer raiz,
e vender canção.
 
Assim eu quero ser:
só, somente só.
Vou à furna orar, por paz suplicar,
a lenha catar,
acender fogueira,
fogo,
dançar,
ouvir o crepitar, esperar resposta,
abraçar a pedra quente e imota
para de frio não morrer.
 
Vou meditar no chão,
terra,
o silêncio respirar,
ar,
o céu será meu lençol,
meu anjo ver ao lado,
carinhoso, presente,
compadecido de mim feito irmão.
 
De dia vou cantar poemas
pros bichos curiosos.
À noite assobiar cantigas
pros olhos brilhantes
que espreitam,
misteriosos.

 
Vou assim morar,
ao pé da penha gigante,
perto da praia,
quero pisar areia, sentir o mar.
Em cachoeira me banhar,
água.
Pequenino, simples,
humilde, esquecido,
insignificante.
 
A solidão é
salgada, fria, doce, quente,
masculina, feminina, amiga
 e cruel mormente.
 
Um grão de pó,
um grama de nada,
porém parte do equilíbrio da imensidão,
desprendido, focado
no que para mim passa a ter sagrado valor.
Guardião da semente
daquela poetificada
e robusta árvore.
Árvore que dá o fruto doce,
desejado, esperado,
procurado...
O fruto chamado a...
(não consigo mais falar essa palavra, perdão)
Destarte, serei apenas grão,
apenas um só.

Olvido quero estar,
assim, sem você.

11/08/2014
 

Interação da querida escritora Marlene Toledo:

Sem você, assim....
Sou outono gelado
inverno sem sol,
verão adormecido
na primavera descolorida...


 
Interação de minha concidadã, poetisa Leti Ribeiro:
 
Por vezes, nos deslumbramos pelo encanto e beleza de outrem,
mas ao envolvermos descobrimos que deixamos parte de nós mesmos para trás...
amar a si mesmo é amar a muitos ...
Assim, voltamos a refazer nossos passos em busca de equilíbrio...
 
     Para esta poesia eu fiz um áudio envolto pela música "Mana Vu", canção tradicional israelita, cuja letra é baseada no livro de Isaías 52:7 ("Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina!"), interpretada pela "Therese Schroeder-Sheker".
     Encantam-me todas as manifestações floclóricas e tradicionais de todos os povos desse mundo, perduram porque são valorosas. Esse vídeo ilustra bem esse momento mágico em que as pessoas dão-se as mãos, cantam e dançam, assim como se fazia no passado, e assim como se fará no futuro: https://www.youtube.com/watch?v=gj6HYnNxfDE . Regozijo-me por eu ser uma criação de Deus.
     Para ouvir o áudio que fiz para essa poesia clique no link abaixo ou aqui.

(imagens obtidas da internet, todos os créditos e agradecimentos aos seus criadores e proprietários)