O Tempo não passa
O tempo
não passa descalço.
Não passa no tempo
o abraço...
A escova não furta teu cabelo
O espelho não cega tua imagem
Um cacto no tempo,
rígida indecisão
Transposta na irregularidade parasita
um cacto no tempo,
seleta magnitude
Descalço no tempo
sujando o tumor
na escada de medo
na tumba, no dedo
pelo cobertor
o farol, pulsa (sem cilindro)
A inércia do ferro de passar
A mão materna, chupando tristeza
O enterro do jornal
Um dado irregular, subindo a exatidão
tudo passa
Menos o tempo.
O tempo não passa.
Passaram-se as letras
O pão, o alumínio
Um rosto no chão
A febre da angústia
A falta de sono
O arroz na calçada
Menos o tempo:
Cuspiu na fumaça
O tempo não passa...
A esperança na ânsia do ócio, fugiu
pelo esgoto, no delta imperfeito dos vícios,
dos ossos. Andou pelas terras do júbilo,
na curva do aço, andou e não viu.
O tempo não passa, o tempo não passa.
Não negue no escuro que o tempo não passa,
sei que tu choras por léguas, de graça
cruel latifúndio, não passa, não passa
O tempo não passa
O tempo não passa
a moça do riso
de carne não passa.
Sucesso das traças
comendo meus panos
meus azes de paus
mas não as desgraças
A lágrima caça
a letra da fome
a fome do nome
A lágrima caça
Despeço-me dos domicílios, trajetos de beijos
o tempo não passa, já volto pra casa.
Pra casa pra casa e o tempo não passa.
A alça de ar negro, cortaram-me as redes
Pra casa pra casa, fugir da desgraça
No ato, pioneiro
As fezes de ácaro
não saem, não saem
e o tempo, fugiu ?
passou do meu lado.