O Tempo não passa

O tempo

não passa descalço.

Não passa no tempo

o abraço...

A escova não furta teu cabelo

O espelho não cega tua imagem

Um cacto no tempo,

rígida indecisão

Transposta na irregularidade parasita

um cacto no tempo,

seleta magnitude

Descalço no tempo

sujando o tumor

na escada de medo

na tumba, no dedo

pelo cobertor

o farol, pulsa (sem cilindro)

A inércia do ferro de passar

A mão materna, chupando tristeza

O enterro do jornal

Um dado irregular, subindo a exatidão

tudo passa

Menos o tempo.

O tempo não passa.

Passaram-se as letras

O pão, o alumínio

Um rosto no chão

A febre da angústia

A falta de sono

O arroz na calçada

Menos o tempo:

Cuspiu na fumaça

O tempo não passa...

A esperança na ânsia do ócio, fugiu

pelo esgoto, no delta imperfeito dos vícios,

dos ossos. Andou pelas terras do júbilo,

na curva do aço, andou e não viu.

O tempo não passa, o tempo não passa.

Não negue no escuro que o tempo não passa,

sei que tu choras por léguas, de graça

cruel latifúndio, não passa, não passa

O tempo não passa

O tempo não passa

a moça do riso

de carne não passa.

Sucesso das traças

comendo meus panos

meus azes de paus

mas não as desgraças

A lágrima caça

a letra da fome

a fome do nome

A lágrima caça

Despeço-me dos domicílios, trajetos de beijos

o tempo não passa, já volto pra casa.

Pra casa pra casa e o tempo não passa.

A alça de ar negro, cortaram-me as redes

Pra casa pra casa, fugir da desgraça

No ato, pioneiro

As fezes de ácaro

não saem, não saem

e o tempo, fugiu ?

passou do meu lado.

Heitor de Lima
Enviado por Heitor de Lima em 17/07/2014
Reeditado em 10/09/2014
Código do texto: T4885801
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