CARMA
 
Eu me congelei
em algum lugar do passado...
Naquelas tardes frias...
Pelas longas ruas de meu ser...
Por aqueles becos austeros
em que caminhei tão só...
Hirta e esquálida...
Pretensamente só...
Uma pedra solta
num paralelepípedo coberto de gelo.
Ah! O gelo era minha ousadia...
Minha poesia fúlgida...
Meu cristal escorregadio...
A estepe maciça...
A engrenagem fria...
Desgrenhada pelo vento
e tão morta por dentro!
Mas rolou o tempo
oblíquo e gelado...
Não fugi e nem caminhei...
Apenas parei longamente
cismando as melancolias...
Repetindo um sonho
e suas metáforas...
Fingindo viver...
Ou escrever os versos frágeis
da frustrada febre poética,
“desgraça frígida” de um poeta...
 
 
 
 


Imagem: Autor: Jernej Lasic ( disponível em : http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=24874