Esparramada
Como cartas espalhadas
estou eu no tempo:
nas camas, nas ruas
nas casas...
Estou eu ao relento:
– esparramada.
Com o coração sedento
que não encontra nada,
senão medo que me
banha aqui dentro;
sou carta, carta velha,
já pautada.
Carta borrada,
manchada,
furada...
Estou em cada marca e ferimento,
carta velha sem fundamento,
estou no esquecimento
– lá faço morada.
Ao vento lançada,
como carta que implora
o momento
de ser lida e encontrada...
Enquanto isso, perdida,
nado no nada:
lembrança esquecida,
estou eu: esparramada.