ASA INTERDITADA - A Isabel Campos
NO INÍCIO DA MADRUGADA DE 09 DE MAIO DE 2014
Poema escrito em 1984
Entre os dedos entrelaça
esta saudade do amor
flor partida há tanto tempo
que já nem mesmo recorda
seu odor e sortilégio.
Percorre o hoje em exílio
entre o furor do mundo
e as artimanhas do medo.
Brilhos lhe escapam.
No seu sonho
a dor é esfinge atenta
e o coração, marinheiro
lúcido e alheio
ao leme do barco.
Outras terras outros mares
lhe acenam
e o desejo flui
pelas artérias e veias
mas o rouxinol oculto
por trás das grades do peito
não ousa
romper os véus do seu canto.
Amor, asa interditada,
retrai os céus do seu voo
nas entranhas desta hora
feita de recolhimento
flor às avessas.
Porém, na raiz profunda
da canção da primavera,
e com as mãos doloridas
de luz e sombra
vai aprendendo o ofício
de tecer a esperança
e a luz de um mais claro dia.
Abraço grande, amiga.
REPUBLICAÇÃO.