A Percepção ocular

Não fujo do alvo mar que uma pálpebra esconde,

e quando abre espumas e ondas, vago no susto

da algaravia que move o martírio de onde

veio meu sonho cego: pálido e vetusto.

Poucas almas se locomovem junto ao bonde

mesmo bonde que escrevo, vil e a qualquer custo.

Escrevo pelo meu corpo nunca tão ufano

de orgânicas paredes e faces tão belas,

e olho nos becos d'alma: os reflexos ciganos

dos meus nervos centrais presos em muitas celas.

Sinto que nutro a lembrança de um beijo arcano

e o tremor herege de minhas organelas

Oh, se a mim grita o pensamento vaporoso

já não vejo onde minha estrutura se encerra;

Apenas sei que sigo no impassível gozo

de minhas pupilas, já agudas, numa guerra

onde um mundo interno, sutilmente ocioso

sempre "emuda", sussurra, dialoga e berra!

Heitor de Lima
Enviado por Heitor de Lima em 26/04/2014
Reeditado em 08/05/2014
Código do texto: T4783740
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