A Percepção ocular
Não fujo do alvo mar que uma pálpebra esconde,
e quando abre espumas e ondas, vago no susto
da algaravia que move o martírio de onde
veio meu sonho cego: pálido e vetusto.
Poucas almas se locomovem junto ao bonde
mesmo bonde que escrevo, vil e a qualquer custo.
Escrevo pelo meu corpo nunca tão ufano
de orgânicas paredes e faces tão belas,
e olho nos becos d'alma: os reflexos ciganos
dos meus nervos centrais presos em muitas celas.
Sinto que nutro a lembrança de um beijo arcano
e o tremor herege de minhas organelas
Oh, se a mim grita o pensamento vaporoso
já não vejo onde minha estrutura se encerra;
Apenas sei que sigo no impassível gozo
de minhas pupilas, já agudas, numa guerra
onde um mundo interno, sutilmente ocioso
sempre "emuda", sussurra, dialoga e berra!