Indecifrável ao alheio
Indecifrável ao alheio
Na madrugada, enquanto todos dormem,
ouço o bramir dos cães enfurecidos,
que parecem suplicar pelas dores do mundo.
Vejo o plenilúnio que sofre a insônia,
no celeste azul, triste e solitário
e, em mim, ouço minha mente que reclama,
aos gritos, os sonhos estacionados.
É na calada da noite, no escuro,
que acordo às minhas dores e taciturno,
sinto as minhas feridas ainda abertas.
E à espreita eu mesmo com diatribes em riste,
nas reflexões em tristes juízos
das autotraições nos falsos sorrisos,
na percepção das imperfeições
por tudo aquilo a que não me adequei.
Vejo presa à parede uma vida fria
e estampada nela uma fotografia
que é também uma dor que ontem profetizei.
O tempo passou e eu o acompanhei.
A vida não passou, pois nela ainda estou
e na forma que eu escolhi por viver.
Sinto no ladrar dos cães
minhas lamentações
retrata, perfeito, a minha desolação,
na lua espelho a minha solidão,
enquanto os deuses teimam em dormir.
Beto Acioli
23/04/2014